Author: Nelson VinagreAerospace Exercise Physiology & Rehabilitation Lead; Coordinator, Portuguese Hub - InnovaSpace Não sou tão velho assim nem tão novo, mas já vivi suficientemente para ter muitas experiências em ambientes extremos e radicais, onde pudéssemos observar a resposta fisiológica do corpo humano exposto a estas diferentes situações. Em minha história esportiva, trago a natação como base de meu treinamento fisiológico, onde durante anos treinei para competições e depois que me tornei educador físico, treinador, instrutor em salvamento aquático e pesquisador nas áreas do treinamento. Assim, pude compreender ainda melhor muitas reações que se passavam comigo e com as pessoas com quem eu trabalhava. Como hobby e amante do esporte, fiz parte de uma geração que ajudou a quebrar os tabus da imagem do surf, que era considerado esporte de malandro, e que hoje veio a se tornar esporte olímpico e modalidade profissional. Nos anos 90, além de ter realizados treinamentos de mergulho com garrafa, na famosa Escola Superior de Esportes de Colônia/Alemanha (Deutsche Sport Hochschule), pude realizar mergulhos na costa brasileira tanto com garrafa quanto com snorkel no Pantanal, em Bonito, no Mato Grosso do Sul, em meio as Piraputangas. Paralelamente a vida acadêmica que se iniciava, a partir dos 17 anos me dedicava intensamente as lides aéreas, onde pretendia me tornar aeronauta e piloto profissional de linhas aéreas. Foram muitos anos de dedicação teórico-prática, fazendo minhas licenças de piloto planador, privado, comercial, instrumentos, multi-motor, rebocador e agrícola, que me remeteram a algumas centenas de horas de voo e ainda mais pousos e decolagens, especialmente pela operação de planadores, que exigia de mim, como rebocador, múltiplas subidas e descidas em curto espaço de tempo. Nessa situação, apesar de estarmos atuando dentro de uma altitude fisiológica, certamente impunha ao meu organismo um condicionamento físico razoável dado pela resposta hemodinâmica, proprioceptiva, vestibular... Nos diferentes locais onde atuei profissionalmente, pude perceber que sou plenamente adaptável a distintos ambientes. Parti de Porto Alegre 1993 rumo a Serra Gaúcha, que além de ser uma das regiões mais frias do Brasil, encontra-se a 1000m de altitude, requerendo de nosso organismo certa adaptação em relação ao nível do mar. Na busca de novos desafios desportivos, inovadores e de interação com o meio, lá estávamos a descobrir nova modalidade que no Brasil ainda não havia ressonância, o rafting que pela primeira vez realizava uma competição no Vale do Paranhana. Depois desse período de “treinamento e exposição a temperaturas mais baixas” por 14 meses, mudei-me para a Alemanha em função do estágio acadêmico no departamento de esportes de inverno da famosa Escola de Colônia, em pleno inverno, tendo que me adaptar abruptamente do auge do verão brasileiro para temperaturas constantemente abaixo de zero e uma realidade climática completamente diferente a encontrada no Brasil, ainda que viesse de uma região sub tropical. Na década seguinte e com novos desafios acadêmicos profissionais no Brasil, tive a incumbência de coordenar um curso na Amazônia Ocidental, mais precisamente no Estado de Rondônia, próximo à fronteira do Brasil com a Bolívia, onde as temperaturas se aproximavam da casa dos 44 graus Celsius e a umidade relativa média do ar era superior aos 70%, para não falarmos das questões da saturação de litometeoros no ar, ocasionado pela fumaça em excesso gerada por grandes queimadas. Novas fronteiras acadêmicas e desportivas surgiram e, de volta a Alemanha, tive a possibilidade de aprofundar minha carreira profissional junto à Agência Espacial Alemã (DLR) e ao Departamento de Medicina Desportiva da Universidade de Göttingen. Com ambas instituições, realizei meu aprofundamento cientifico junto aos desportos adaptados e inclusivos. Já são mais de 14 anos enxergando o movimento humano sobre outra perspectiva, seja do ponto de vista das limitações fisiológica e biomecânicas, seja psicossocial, seja das transferências tecnológicas, mas acima de tudo, partindo da percepção de um continuum desenvolvimental. Novos ventos, literalmente, desta vez me levaram ao ponto mais Ocidental da Europa, de onde escrevo este mais recente relato de experiencia desportiva de minha vida, a regata marítima que, diga-se de passagem, em muito tem a ver com o voo à vela. Essa nova experiencia me remeteu a um novo ambiente, do qual se pode extrair inúmeras reações comportamentais (psycho-enviroment behavior) e fisiológicas, a partir uma vivência que em muito pode nos ajudar na realização de novos experimentos e a entender o que se passa fisiologicamente com nosso organismo nos processos de desorientação espacial e os efeitos indesejáveis por ela gerados. Ainda que por mais outra vez estivesse adaptado a este novo ambiente e que estivéssemos dotados de equipamentos de navegação que nos orientasse (quanto a velocidade, direção...), vejo que meu corpo era capaz de perceber acelerações e desacelerações da embarcação nos diferentes momentos de melhor aproveitamento dos ventos ou das correntes marítimas. Durante aproximadamente 7 horas permanecemos no veleiro, com variações de atitude com relação ao horizonte, ao vento e a maré, sendo que, pelo menos metade do tempo, estivemos sob chuva e algum vento, ainda que fosse o vento relativo. Por incrível que pareça a situação de maior desconforto foi justamente ao nos defrontarmos com a calmaria, quando o veleiro ficava jogando com a ondas. Durante a regata, passamos alternando posições e funções, sem que houvesse uma demanda física extrema. Sem sombra de dúvidas, a pior posição foi dentro da cabine. Mas, ao final da regata, pude me defrontar com mais um fator inusitado, o extremo cansaço físico e mental, associado a uma indisposição geral. A sensação de estar a bordo permaneceu por muitas horas, mesmo que já me encontrasse em terra firme, o que nos remete facilmente a situações operacionais de voo comercial, militar e em uma condição extrema o voo espacial. Assim, como já sabemos dos riscos clínico-fisiológicos de se realizar um voo após poucas horas depois de mergulhar com garrafa, facilmente pode-se imaginar o que ocorre se viermos de uma atividade náutica, por exemplo, uma regata, e partirmos para uma viagem aérea comercial, como passageiro e ainda pior como tripulante, visto as possíveis reações orgânicas que afetam nossos sistemas vestibular, metabólico e motor, decorrente da exposição ao ambiente marítimo. This blog is promoted and supported by the:
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